sábado, 8 de outubro de 2011

Para inglês ver

“A Secretaria de Políticas para Mulheres do Governo Federal pediu ao Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) a suspensão da campanha publicitária “Hope ensina”, que traz a modelo Gisele Bündchen mostrando a “melhor maneira” de contar más notícias ao marido. Primeiro, Gisele aparece usando roupas normais para falar, por exemplo, que bateu o carro. A estratégia é classificada como “errada” e em seguida a forma “correta” é mostrada: a modelo repete a notícia, usando apenas lingerie. “Você é brasileira, use seu charme”, conclui a peça publicitária.”



A cada dois minutos, cinco mulheres são agredidas violentamente no país, em mais da metade desses casos as vítimas possuem baixo nível de escolaridade e, apesar de toda a campanha promovida pelo Governo, muitas ainda desconhecem a Lei Maria da Penha ou desacreditam-na.

Mais do que um problema ético-moral, a violência contra a mulher está sobre uma determinada (des)estrutura sócio – familiar. O agressor e a vítima não são indivíduos isolados, mas produto de uma construção da sociedade e, concomitantemente, do sistema político vigente que, muitas vezes, os alijaram de seus direitos mais elementares, como o da alimentação, da saúde e da educação pública e de qualidade.    Assim, discutir esse assunto apenas no âmbito dos estereótipos sobre homem e mulher é ignorar que essas pessoas foram constituídas culturalmente, em sociedade, que as condições nas quais viveram contribuíram, em maior ou menor intensidade, para sua constituição pessoal. E que, fundamentalmente, como cidadãos somos todos responsáveis pelo produto da desiguladade.

Portanto, a Secretaria de Políticas para Mulheres do Governo Federal se inquietar com uma propaganda, pois afirma que ”ela promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grandes avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas” é a famosa medida paliativa, é tampar o sol com a peneira e ignorar que, se há a propaganda, há também um público alvo receptivo a ela. E, esse público, não modificará suas opiniões e visão de mundo porque o comercial da Hope foi suspenso da TV.  É necessário ir às bases e modificar o sistema que proporciona a formação psico-social desse sujeito e, por consequência, alterar positivamente sua forma de se portar no mundo.

Além disso, impedir a exibição de um comercial de 30 segundos enquanto outras formas de comunicação, como programas de TV e músicas, mais abrangentes e de veiculação frequente, propagam esses pensamentos sexistas não é ação desperdiçada? Ademais, essas ações proibitivas não representam o cerceamento de um direito conquistado, a Liberdade de Expressão? Questões que devem ser levantadas e discutidas antes que as algemas se fechem mais uma vez.

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