quinta-feira, 31 de maio de 2012

Entrevista com o artista Raphael Araújo



Raphael Araújo é graduado em Artes Plásticas pela UFES, 2011. Participou de diversas exposições coletivas, destacando-se “Deslocamentos”, na Galeria Homero Massena, 2008. Contemplado com a Bolsa ateliê de Pintura da SECULT, em 2010. Premiado com o primeiro lugar no V Salão de artes Levino Fanzeres, Cachoeiro de Itapemirim, 2010. Autor e diretor do curta-metragem "Confinópolis - A Terra dos Sem Chave". Confira abaixo, entrevista com o artista:


1) Raphael, conte um pouco sobre você e sua carreira artística. 
Sou nascido em Vila Velha e formado em Artes Plásticas pela UFES, 2011. Fiz algumas exposições coletivas, participei de uma residência artística voltada para pintura (2010), ganhei alguns concursos, participei de alguns projetos voltados para as artes. Desenvolvo trabalhos em diversas áreas como fotografia, desenho, pintura e vídeo. Atualmente estou fazendo alguns cursos na área do design, inscrevendo o filme Confinópolis em festivais, fazendo uma revista virtual (Underground do Underground ) e dia 06 abre a exposição “Multiplicação”, só de desenhos, juntamente com o artista Victor Monteiro, na Galeria Espaço Universitário, UFES e fica até final de Julho. 

2) Como surgiram as artes em sua vida? Sua paixão foi diretamente pelas artes plásticas ou outras linguagens como a música e o cinema também lhe impulsionaram?
Acho que um pouco antes da faculdade comecei a prestar uma maior atenção no que produzia e no que realmente queria fazer na faculdade. A essa altura eu tinha uma banda e pensava cuidadosamente (ao meu jeito) sobre as artes dos discos, dos cartazes, da divulgação. Nas férias me reunia com amigos e filmávamos alguns filmes trash por Vila Velha. Logo a música e o cinema me impulsionariam a fazer Artes.

3) Quais foram suas grandes influências? Houve algum movimento ou artista específico que lhe fez querer se tornar artista plástico?
As minhas maiores influencias em ordem cronológica foram os desenhos da televisão dos finais dos anos 80/ inicio dos 90, os seriados japoneses, os quadrinhos e os filmes dessa época. Anos depois, o rock, o skate e o punk, me influenciaram completamente tanto pela estética quanto pela filosofia e estilo. Através das artes e artistas relacionados ao punk como: Gee Vaucher, Jamie Reid, Winston Smith, Raymond Pattibon, Bob Gruen, conheci um pouco mais sobre a arte e seu mundo, identifiquei, vi neles e no que faziam algo bonito, importante, acessível, direto, agressivo. Na faculdade me aprofundei nos estudos sobre movimentos artísticos e logo vi que tudo estava relacionado. 

4) Com quais linguagens artísticas você atua?
Tenho interesse e me aventuro por alguns meios, dentre elas a fotografia, o desenho, a pintura, o vídeo.

5) O curta-metragem “Confinópolis – a terra dos sem chave” foi seu primeiro trabalho cinematográfico, como foi esse processo?
Foi o primeiro com um nível profissional, tendo em vista as antigas produções. Pela primeira vez iríamos trabalhar com verba, equipe, reuniões, roteiro, storyboard, edição de áudio-video, captação de som e muitas outras coisas que fazem parte da produção de um filme.

6) Seu trabalho com a fotografia contribui para a formatação de “Confinópolis”? Por que optou pelo preto e branco?
Sim, com certeza, fotografar me ajudou, até porque os conhecimentos são interligados. O fato de o filme ser em preto e branco, foram por diversas questões. A maior delas era manter a integridade e a fidelidade, dos quadrinhos, o máximo possível. Já que Confinópolis primeiramente foi concebido em quadrinhos, PB. O preto e branco também facilitaria na hora de captar e editar as imagens dispunha de poucos recursos. 

7) Por que transformar a HQ publicada na Revista Prego em um filme? Como surgiu a ideia?
Temos um grupo chamado “Camarão Filmes & Ideias Caóticas”, que teve o projeto aprovado no edital da Rede Cultura Jovem. Com a reativação do grupo começamos a fazer diversas reuniões e ficávamos cogitando o que seria interessante de filmar. Foi levantada no grupo a possibilidade de filmar Confinópolis, por possuir aspectos interessantes para ser transformado para o vídeo.  

8) Confinópolis é permeado por diversas metáforas e críticas sociais, como a manipulação do povo pelos políticos, religiosos e inclusive pela televisão (mídia). O objetivo da HQ e do filme, por conseguinte, era utilizar a arte como ferramenta de protesto e questionamento? 
Os objetivos da HQ, do filme e da arte para mim vão para além desses objetivos apontados na pergunta, eles surgem primeiro de um interesse pessoal em fazê-los. É minha maneira de se relacionar, reconfigurar, reinterpretar o mundo. Acho que o protesto e o questionamento estão dentro do ser humano. Só se mudam a forma de como isso é feito, os motivos. Confinópolis é fruto das minhas vivências por isso acho que se configurou desta forma, não que eu tenha pensado previamente que seria um protesto. Isso depende muito da interpretação de cada um. 

9) Acredita que hoje as artes ainda cumprem o papel de transformação social tal qual desempenharam alguns movimentos, como o Antropofágico?
Esta pergunta me parece um pouco complexa. E tocará em diversas questões duvidosas. Eu não sei definir e nem onde me basear para afirmar se a arte transformou socialmente o mundo. Acredito que ela pode ajudar, ela geralmente aponta caminhos. Mas não se pode isolar ela do restante da sociedade, ela é fruto de tudo esta acontecendo no momento. 

10) A produção de cinema no ES ainda é frágil e está começando a despontar algumas obras em nível nacional e internacional. Como você enxerga esse cenário no Estado? O que ainda falta para desenvolver o cinema capixaba?
Eu enxergo o cenário do estado em plena ascensão. Isso acontece por alguns motivos, o acesso facilitado de hoje à tecnologia e as politicas públicas dos últimos anos, voltadas para o desenvolvimento deste setor. Apesar de ainda serem poucos os investimentos, esta se investindo. Acho que é preciso tempo e com isso ganhar experiência. Às vezes falta uma maior profissionalização. Apesar das dificuldades vejo as produções capixabas equipararem-se as produções dos demais estados. 

11) Confinópolis foi assistido em diversos festivais de cinema, como a 9ª  FEIRA LAICA Internacional, VIII Fantaspoa - Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre  e 2º CINERAMA.BC - Festival Internacional de Cinema em Balneário Camboriú 2012, porém ainda não foi exibido em cinemas do ES. Podemos esperar por isso em 2012?
Não foi assim diversos, você disse todos os festivais em que filme participou. Futuramente o filme será exibido no Fest.pt – Festival de cinema jovem, que fica em Espinho, e também na 20ª feira Laica que fica na cidade do Porto, ambos em Portugal. O filme só foi exibido no ES, em duas sessões piratas, uma na Casa 16, em Vila Velha e uma na Fogueirinha Vibe, na UFES. Eu espero que ele seja exibido em algum cinema do ES, ainda este ano.

12) Como as pessoas podem assistir “Confinópolis – a Terra dos sem chave”? 
O filme esta na internet e só não é liberado, pois isso poderá prejudicar o filme a passar em algum festival, alguns exigem ineditismo. Liberamos por algum tempo para uma entrevista, mas com senha, sempre passamos o link para as pessoas que querem assistir, junto com a senha. Podem me pedir rapharaujo@gmail.com, que farei isso. Outra forma é que mandamos para a fábrica o DVD do filme, estaremos vendendo ele para quem quiser. Ele será comercializado separadamente ou com uma máscara do filme. Para quem se interessar entre em contato. Espero que o filme, ainda este ano, seja exibido no ES, de uma maneira mais ideal.

terça-feira, 29 de maio de 2012

O machismo e outras verdades incontestáveis


Não me impressionaria com um passageiro que escandaliza o fato de uma mulher pilotar o avião, nem com os homens que ainda afirmam que as mulheres preferem carros ao invés de pênis, se esses (pré)conceitos não tivessem a mesma motivação dos fatos e índices apontados pelo site Quem o machismo matou hoje? As diferenças entre homens e mulheres existem e quem afirma o contrário ou é machista ou é iludido. Infelizmente a maioria se enquadra no primeiro grupo. As mulheres ainda hoje são tratadas como propriedade do homem, caso contrário, como justificar os conceitos de que “o menino pode” a “menina não”, a sociedade é fálica, desde a criação de seus filhos até seus monumentos históricos. 

Quando nascia a menina era propriedade do seu pai, após o casamento pertencia ao marido, a quem devia total obediência, não lhe sendo possível se quer recusar o coito. Por séculos foi referência de pecado, sendo considerada pela cristandade como impura e por isso merecedora de toda sorte de flagelos. Justificativa semelhante foi dada pelos sacerdotes católicos à escravidão, os negros deviam ser capturados, torturados e postos em condições animalescas, pois não possuíam alma, haviam vendido - a ao demônio e a única forma de redenção era a tortura, física e psicológica. Hitler também utilizou argumentos semelhantes, na sua busca pela raça pura, por territórios e outras coisas mais, cometeu genocídio, que com essa palavra tão pequena nem parece ter sido tão atroz, mas foi. As ditaduras seguiram linha similar para livrar a sociedade dos ameaçadores da honra, da dignidade e da família cristã, os socialistas. Não me atenho às questões políticas e econômicas motivadoras desses “líderes de movimento”, mas sim ao belíssimo discurso usado por eles para convencimento e manipulação da sociedade. 

O fato é que o machismo, tal qual o racismo e a homofobia, estão enraizados na conjuntura social, presentes nas piadas, charges, chavões, falas que, muitas vezes, são ditas e replicadas sem que seu disseminador se dê conta do que ele está passando adiante. Sem que a pessoa perceba que o que ela diz vai ao encontro de homens que batem e até matam suas companheiras porque essas optaram pela separação (pois eles são donos de SUAS mulheres e só eles podem decidir quando largarem-nas), dos chefes que assediam suas funcionárias (pois é normal de macho fazer isso), de homens que abusam e estupram (porque a mulher provoca com sua roupa decotada, curta e colada no corpo), afinal, mulher não é gente, é um subproduto do homem. Ademais, é óbvio que a vítima é a culpada pelo crime, o homem é um animal instintivo que não responde por seus atos, logo, as fêmeas não devem provocá-los. 

Devemos desde cedo ensinar nossas filhas que, antes de escolher suas roupas elas precisam analisar se elas não atraírão um animal carnívoro e tribal chamado homem; antes delas definirem onde ir e que horas retornar para casa, elas precisam refletir se esse local e horário não correspondem ao habitat natural do macho; antes de se apaixonarem e constituírem uma nova família elas necessitam se conscientizar de que essa decisão não tem volta, que elas não podem mudar de ideia, haja visto que pedir o divórcio é justificativa plausível para ser assassinada. Devemos, ainda, ensinar aos nossos filhos que seu “piruzinhos” são o cetro do poder que domina o mundo, que eles podem tudo e que se uma mulher ousar desobedecê-los e provocá-los com suas vestimentas consideradas inadequadas eles devem utilizar toda sua força para corrigi-las.

Mas não, o machismo não existe, nem aqui e nem no Oriente:  



domingo, 20 de maio de 2012

Aqui se faz Literatura

*Artigo publicado no Caderno D ano II - n° 8, Fevereiro de 2012

A literatura é uma manifestação artística que, tal qual as artes plásticas, é constituída por distintas Escolas, no Brasil, por exemplo, compreende do Quinhentismo ao Pós Modernismo. Logo, se referir a uma “literatura capixaba” é presumir equivocadamente que a produção literária regional independe da literatura brasileira, apesar dessa ser única. Pois o que existe é literatura produzida por autores capixabas, natos ou adotados. Cujo início se deu com os autos escritos por José de Anchieta, no final do século XVI. Desde então ocorreram diversas mudanças, que oscilaram entre fases de pouquíssima produção, como os séculos XVII e XVIII, restritos a literatura de louvor a Nossa Senhora da Penha, e de franco desenvolvimento, como o século XX, marcado pela criação de importantes instituições ligadas à literatura, o Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e a Academia Espírito-santense de Letras, ambas ainda atuantes, além do lançamento da Revista Vida Capichaba, que contribuiu por quase quatro décadas para a cultura regional. Em meados desse decênio, autores capixabas já despontavam em âmbito nacional, como Haydée Nicolussi (1905-1970), poetisa brilhante, lembrada por Graciliano Ramos em Memórias do Cárcere, e Rubem Braga (1913-1990), reconhecido como um dos melhores cronistas do país.

São muitos os autores que merecem citação, porém, não cabem todos nesta revista, entre eles estão Renato Pacheco (1928-2004) pioneiro na publicação de romances modernos, Fernando Tatagiba (1946-1988) e Bernadette Lyra, os dois precursores do conto capixaba moderno e, dos anos 1980, Reinaldo Santos Neves, Adilson Vilaça e Francisco Grijó, fundamentais no gênero de ficção em prosa, assim como Paulo Roberto Sodré, Sérgio Blank e Oscar Gama Filho, para a poesia. Os próximos decênios se configuraram pelo reconhecimento e valorização do capital social e, concomitantemente, pelo estímulo à cultural, através de Leis de incentivo, como a Lei Rubem Braga da Prefeitura de Vitória, e de Editais, como os da Secretaria de Cultura do Estado e o mais recente Bolsa Cultura Jovem, que viabilizaram o surgimento dos novos autores, como Saulo Ribeiro, Gladson Dalmonech, Caê Guimarães e Erly Vieira Junior, para citar alguns.

Contudo, falta ao cenário literário espírito-santense um sistema eficaz de divulgação e comercialização das obras, a dificuldade não é mais o processo de produção e publicação do livro, mas a formação do leitor e o acesso dele às obras, visto que elas permanecem por pouco tempo nas livrarias, muitas vezes, nem chegam até elas, sendo vendidos apenas no lançamento ou de boca-a-boca, por seu autor, como faz Aline Dias, que sempre leva na bolsa o seu primeiro romance, intitulado Vermelho, para oferecê-lo aos que encontra, sendo assim, escritora e propagandista.

Leia todos os artigos do Caderno D n°8 e conheça mais da cultura capixaba

Clique na imagem, que se inicia o download:




Sem manual

Deveríamos nascer sabendo como dar conta de tantos compromissos, prazos e cobranças.
A vida é injusta! Ninguém nos avisa na infância, para aproveitar a lama, os pés descalços, o brinquedo quebrado, a árvore no quintal e o balanço de pneu. 

Tudo o que nos falam é:
- Não suje sua roupa menina, sou eu quem lavo! 
- Desça daí, você vai se machucar!
- Calce os chinelos, para não ficar gripada!

Infância deveria ter aviso prévio, 30 dias para nos prepararmos, conscientemente, para o terror da adolescência. O corpo que não cabe na roupa, a mente que não corresponde ao corpo, o corpo que não se cabe. Nada se sabe, nem se é adulto ou criança. 

E antes dessa fase tenebrosa – que adiante será motivo de saudosismo – finde, seria preciso um tratamento intensivo, a terapia do “agora você cresceu!”. Com direito a professor de programação neurolinguística, que nos ensine a como se portar, em si e no mundo. Um economista, que impeça o deslumbre do 1° salário, os gastos desenfreados e, por conseguinte, o sentimento de “não conquistei nada de útil para mim!”. Além disso, um especialista em gestão pessoal, que nos faça colocar nossa vida em planilhas do Excel, quadros kanban e projetos do MS Project. Ah, é claro, e um psicólogo comportamental que nos adestre para colocar em prática tudo o que os outros profissionais nos ensinaram. 

A vida deveria ter manual e todos deveriam aprender desde cedo que os manuais são importantes e que se não o ler possivelmente algo sairá errado. 




terça-feira, 15 de maio de 2012

Desejo



Não importa quão louco seja meu comportamento
quão escandaloso seja meu riso
quão desenfreado seja meu sentimento
quão limitado seja o meu juízo
O importante é que vivo!

Se me entorpeço ou não
Se vou ou se fico
Se minto ou digo a verdade
Ando mesmo na contramão
da sua divina seriedade

Quero todas as emoções em prato fundo
Quero todo amor do mundo!
Quero beijos cálidos
E a vida em um envelope

Quero nadar em mar bravo
Sair de casa em dias de tempestade
Repousar em lago sereno quando me der vontade
e encontrar sombra nas tardes de verão

Eu quero
e quero agora!
Não importa se estão olhando
Não quero pudor
Nem pejo
Quero desejo desenfreado e inconsequente

Quero o infinito
dispenço limites, já me basta os que criei
Irei além, até onde eu me permita
Superar a mim, é superar tudo.


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Modernidade, viva!


 Homens voando sem asas
Fábricas de xérox humanas
Indústrias mais industrializadas
O azul é agora cinza

Rios urbanos,
Lixão aquático
Rios secando
Arvores caindo
“-Tudo em no do progresso!”

Já não existe Jesus Cristo

Há apenas o consumismo

O monte Everest se oculta nas sombras dos arranha-céus
O panda não esta extinto
“-Saiu de mudança da China e da Índia para o quarto das crianças.”


Progresso inverso,
Rumo a idade da pedra!
O êxtase do orgasmo é agora inalado, fumado ou injetado.
A gosto do freguês!
Não é preciso Montéquios nem Capuletos para um final drástico

Filhos sangram pais, pais desonram filhos.
Padres pedófilos, pastores comerciantes de fé.
Muçulmanos chacinam por Alá.
 E os judeus... Bons negociantes.
Ah! E os Rastafaris?! Só mesmo Marley.

Alegrem-se irmãos, este é o novo mundo!


sábado, 12 de maio de 2012

Menino de rua



Obstruo sua travessia
fazendo do meio-fio moradia
Vejo seu vulto soberbo
tornando-me um defunto sem peso

Sou envolvido por uma serpente,
um veneno entorpecente,
brincando com as miragens
em minha mente

Fora do transe químico,
pesadelo real, doloroso suplício.
Tenho fome, não tenho comida.
Tenho sede, não tenho bebida.

Mas tenho a química dos homens,
a hilariante cola dos solados.
A paisagem que não é quadro;
O sentimento que não é poema.

A verdade nua e crua, a cada passo nas ruas.

Jacob O. Bittencourt
















sábado, 5 de maio de 2012

Mergulhe nestas ondas


Roteiro| Pesquisa: Jocilane Rubert
Direção de arte| Edição: Wanderson Scofield

Nas ondas do rádio o Programa Jairo Maia - PJM - navegou por meio século. Líder de audiência das rádios AM no Espírito Santo, o radialista realizou grandes mudanças que influenciaram seus sucessores e, inclusive, outros veículos de comunicação, como os programas televisivos.“Com 60 mil ouvintes por minuto, segundo dados do Ibope” sua história se mistura à de inúmeras pessoas e famílias.

Pela primeira vez no Estado, uma atração de rádio recebeu ligações ao vivo dos ouvintes, tirando definitivamente o locutor do papel de anunciante musical, para assumir o posto de apresentador do programa, e transformando o ouvinte em um agente ativo que, além de ouvir, também fala. Assim, Jairo Maia permitiu a criação de vínculo entre ele e aqueles que o escutavam, em suas palavras “ele era a ponte entre os que precisavam de ajuda e os dispostos a ajudar”.

Moradores de diversas regiões publicavam por telefone suas queixas sobre a comunidade, enquanto o radialista contatava a autoridade competente, e essa dava seu parecer referente à reclamação, haviam outros quadros nos quais era estimulada a interação do público, tais como o "Show do Quebra-Cuca”, onde o ouvinte respondia à perguntas conhecidas como charadas, quando ele acertava era premiado, o "Troca-Troca" onde se anunciava gratuitamente produtos e serviços para vendas e trocas e a "Corrente de Oração pela Família”, aberta para solicitar orações. Com treze sessões em um único programa a canção terminou por ficar em última instância exceto, é claro, pelo quadro “A música da minha vida”, onde o espectador pedia uma canção relacionada com sua história pessoal.

Nesse panorama, Jairo Maia foi o precursor de um modelo de comunicação que passou a ser utilizado por diversos veículos, tanto o rádio, quanto a televisão e o jornal impresso. Cuja audiência é obtida, em grande parte, através do espaço concedido ao público. A partir do Programa Jairo Maia a mídia local descobriu que “ganha mais, quem mais escuta”, como afirmou Jairo Maia em entrevista, se constatou que as pessoas não querem apenas ser a noticia, mas sim fazê-la. O jornalismo capixaba deixou de ser apenas fonte de informação e se transformou em um espaço de publicações de denúncias, por meio do qual é possível levar à luz, situações precárias que nunca seriam conhecidas se não houvesse um meio de comunicação amplo que as divulgasse.




Jairo Gouvêa Maia nasceu em Bom Jesus do Norte, Município de Cachoeiro de Itapemirim, iniciou sua carreira em 1957, cobrindo as folgas de outros locutores da rádio ZYL-9, na qual estrearam os músicos Sérgio Sampaio e Roberto Carlos. Em 1961 trabalhou na Rádio Espírito Santo, depois na Rádio Vitória, posteriormente na Rádio Capixaba, que foi comprada por ele, porém, após quatro anos a rádio não obteve sucesso e então ele regressou à Rádio Espírito Santo e depois foi para a Rádio Gazeta. Onde foi criado o Programa Jairo Maia, que a princípio seria um programa de música transmitido às 15h. Ele permaneceu na Gazeta por quase vinte anos, da qual saiu por se sentir desvalorizado e por ter perdido uma hora de seu programa para o “Momento de Fé” do Padre Marcelo Rossi.