sábado, 22 de junho de 2013

Amor adestrado

Ah, cãozinho bonzinho
tão manso e educado
Amor, que nome lindo você tem!
Parece tão dócil...
Se eu disser pegue o osso, ele pega
Se eu disser rola, ele rola
Se eu disser finja de morto, ele finge
Mas se o dono assoviar...
Ah, tem jeito não
Aí ele abana o rabo
Corre, pula, brinca
Festeja a atenção que ganha
mesmo que finita.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Queda livre

Sensação de que ninguém se importa
de que tanto fez
mais do que tanto faz
Não há lenço, afago, palavra
Não há vagas no abraço
Não há mãos que me segure
até que o chão se aproxime.





quarta-feira, 5 de junho de 2013

Roda da Fortuna

Cansei
do mais do mesmo
da roda, que proporciona as mesmas visões
do silêncio, repleto de gritantes insinuações
do murmúrio, por redes desconexas

Se deseja distância, mantenha
Laços só são desfeitos quando alguém os corta
Cardaço que se desamarra, se reamarra
É uma questão de escolha
Decidir é sofrer o luto

Não se pode ter tudo!
Pode-se mudar de direção
Mas não percorrer dois caminhos em um tempo só
Desapeguei desta carta
Deste jogo que não vira, se vira

Quebre esse disco arranhado e mude, se mude
Se não quer estar, não fique
Coisas boas acabam, entendo
Coisa duradouras findam, aceito
Porque amizade boa, é franca

Deixe de engolir os sapos que você alimenta
Porque as Moiras só tecem, se houver fio.


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sem tempo

Me cansei há tempo
desta falta de tempo
que o tempo me impõe
Preciso de tempo,
pra dor passar
pra me exercitar,
pra rever os amigos
pra trabalhar
pra limpar a casa
pra escrever o tcc
pra me alimentar
pra emagrecer
pra ver o pôr do sol
pra caminhar
pra seguir em frente
pra descansar
pra ver o filme em cartaz
pra me informar
pra dormir
pra ouvir música
pra dançar
pra aprender algo novo
pra amar
pra sorrir mais
pra escrever
pra ser feliz
Quero um tempo
de tudo ao mesmo tempo.


sábado, 2 de fevereiro de 2013

Hóspede indesejada

Já passei por tanta coisa hoje.
Quando o dia mal havia começado,
a dor já batia a porta do quarto
e entrava sem esperar abrir

Ela já é de casa,
não precisa de licença.

Chegou fazendo alarde
ceifando esperança como se fosse mato alto
matando planos como se fossem pragas
roubando alegria como se fosse dinheiro

Porque ela já é de casa,
não precisa de convite.

A dor veio me lembrar
que eu sou uma daquelas pessoas, nascidas pra sofrer
que ela não vai embora
Porque faz parte da família.

Venho homem triste, Van Gogh.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Cidadania medieval

Cavaleiro de prata,
desembainha tua espada!
Cavaleiro de prata,
erga teu escudo!

Tu existes desde tempos longínquos
Vivendo em castelos de cartas
Lutando guerras sem dono
Sobrevivendo em lendas infantis

Teu elmo não tornar-te cego
Tua armadura lhe torna inferível
Tua espada coroa-te vencedor
Teu escudo lhe torna inatingível

Cavaleiro, proteja o rei!
Dê a sua vida pela a dele
Deixe a espada ser cravada em teu peito
Dê a sua vida pelo reino

Mesmo que esse não te reconheça
Mesmo que seu escudo quebre
Mesmo que sua espada voe longe
Mesmo que seu cabalo fuja
Mesmo que seu amigo morra

Não se decepcione, o reconhecimento vem com a morte
Não fuja, faça de teu peito defesa
Não se entregue, faça dos seus punhos armas
Não se esconda, orgulhe sua pátria
Não chore, se vingue do assassino

É isto que eles dizem
É isto que eles querem:
que você acredite
que você se supere
que vocês os defenda

Vote neles!
Eleja-os.
Dê-lhes o poder.
Deixei-os governá-lo.
Eles sabem o que é melhor pra você!

Eles o conhecem muito bem
Sabem de tudo o que você precisa
E decidiram em Assembléia Geral:
dar-lhe esmola mensal
e aumentar os próprios salários

Você crê em tudo o que eles falam
Porque eles se formaram
São doutores na arte de manipular
Tiraram A na disciplina roubar
São diplomados em política

Você é um cavaleiro!
Com espada quebrada e escudo furado.
Faça seu trabalho com unhas e dentes
unhas sujas, dentes podres
Porque eles são teus candidatos!

Não se esqueça
você é o cavaleiro de prata
Espere a próxima batalha
Até as próximas eleições.





terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Devastação

Extrema tristeza
Por uma tentativa não triunfante
Sinto em mim a destruição
Espírito desolado

O mundo está em ruínas
As chamas são agora cinzas

Ventania levando em seu corpo as folhas
repletas de estórias
O sopro da solidão.
Planos lançados ao chão.

Tiro certeiro,
na pessoa diante do espelho.

Uma enxurrada
levando consigo as casas.
Destruída por uma guerra
particular

A morte é uma fera espreitando a presa
Uma praga devoradora dos frutos da colheita

Alegria passageira.
Diante a realidade.
Enquanto os vermes devoram sua carne.
As lágrimas sufocam minha fala.



Rito de Passagem

Naquele momento estava possuída,
por um demônio autodestrutivo
meu corpo se encolhia todo,
como se estivesse intensamente frio.

Meus músculos extremamente tensos,
me faziam chorar de dor.
Os pesamentos faziam reviravoltas,
como um turbilhão.

O sangue normalmente quente, parecia congelar
com a lentidão que percorria seu trecho.
O coração batendo devagar.
Preciso de ar! Quero respirar oxigênio novo.

Sem a poluição desta imatura insanidade
e a embriaguez dos finais de semana;
Sem a debilitação desta complexidade
e as crises existenciais mundanas.

Sou uma metamorfose!
Uma lagarta que voará como borboleta
ao invés de ser esmagada
Uma ostra ferida
que faz pérolas das suas chagas
Uma criança suicida
desejo conhecer o céu.
Uma jovem lúcida
no mundo da embriaguez

Com uma taça de vinho recebo o futuro
Com o vômito cubro o passado
O álcool me deixou em coma
e me deu sonhos pesados

A realidade é o que eu sonho.
De olhos abertos não me reconheço.
Não vejo um ser humano no espelho.
Prefiro a escuridão.

Rito completo.
Deixo para trás
tudo que pertence ao pretérito.
Por que acabo de nascer e preciso aprender a andar.







domingo, 20 de janeiro de 2013

Jardim de cinzas

O fogo se alastrou,
Com suas mandíbulas
Toda natureza humana devorou
Carne exposta, dolorosa ferida

Toda beleza cardíaca
sofreu o ataque
Bomba atômica
Além de Hiroshima e Nagasaki

Pesquisa a cura
sapiência histórica
Mas alastra doenças
com arma biológicas

Fortaleza de máquinas
Muralha industrial
Proteção robótica
Chacina global

Guera santa,
quente, morna ou fria
Tecnologia
nova guerra que se inicia

Não há defesa no ataque
Carnificina evacua o território
Não há beleza no massacre
A vida que se exauri é jazida de petróleo

Perfume fétido, aroma sangüíneo
Rastro animalesco, jardim de cinza
Destroços, escombros, corpos sem face
Vietcongues sem nome, seres sem importância.







sábado, 19 de janeiro de 2013

Influenza

Sou a ironia de mim.
Suporto pedradas, socos, decepções
Percas, partidas, agressões 
verbais ou não.
Mas esse vírus me derruba!
Pode contar o quanto quiser, é nocaute.

Aguento acordar cedo 
Engordar, chegar no horário, cliente chato
Menstruação todo mês, contas pra pagar, saudade, solidão
Até gracinha de chefe, estresse de mãe, irmão problema
Um tanto de tudo
Menos esta constipação.

Cabeça latejando, nariz escorrendo, corpo moído,
Igual carne, bicho morto na estrada
A mãe grita, a gata mia, o irmão sofre
Os chefes cobram, os amigos reclamam
E o mundo continua girando
- Não dá pra esperar a droga fazer efeito?

- Põe a vida em standy by que hoje preciso descansar!
Ah não nada, faz parte do contrato.
Só pode parar quando acabar, e olhe lá!
Ninguém voltou pra contar.
A vida segue, então siga. Próximo round!
Que a gripe sara em três dias.