sexta-feira, 27 de abril de 2012

Entrevista sobre o Assédio Coletivo



O Assédio Coletivo é um coletivo artístico formado por bandas e produtores culturais com o objetivo de fortalecer o cenário cultural da Grande Vitória e do Espírito Santo.

Confira minha matéria sobre coletivos artísticos na coluna Múltiplas Manifestações do Portal Iuuk


1. A partir de qual demanda surgiu o Assédio Coletivo? Conte um pouco sobre a sua criação.
O Assédio Coletivo surgiu da demanda de três gargalos aqui do nosso estado:

- falta espaço para as bandas de música autoral se apresentarem
- falta de formação de público das bandas autorais
- profissionalização das bandas

Esses três fatores acabam por se tornar uma bola de neve, um vai tornando o outro cada vez maior. A busca do Assédio é tentar solucionar/minimizar esses gargalos. No Brasil inteiro hoje temos bandas de destaques em todas as regiões e o Espírito Santo tem eventos pontuais em que as bandas daqui se apresentam, mas as bandas de médio e pequeno porto não tem espaço. Criamos então um festival mensal, o Festival Tarde no Bairro, no qual as bandas podem se apresentar, somente com músicas autorais, e acertar os detalhes que faltam na banda, conquistar o público e conquistar mais espaços para apresentações.

Além do Festival, possuímos uma reunião semanal, na qual trocamos informações e opiniões a respeito do desenvolvimento das ações do coletivo, as bandas trocam informações técnicas entre si para melhorar os shows e acaba por ser um espaço muito rico a respeito do cenário musical e cultural, existem integrantes do coletivo com 2 anos de trabalho e integrantes com 10 anos de trabalho.

2.  Vocês contam com quantos integrantes? Como foi/ é o processo de inserção de pessoas ao Assédio Coletivo? A equipe atual é a mesma desde o início?
Atualmente o Assédio conta com um cadastro de mais de 50 bandas além de fotógrafos, artistas, expositores, produtores, técnicos e uma lista de parceiros de serviço. Temos dois meses e alguns dias de formação e nossa equipe já evoluiu bastante. No início éramos 4 cabeças, com 3 bandas envolvidas, tentando correr atrás e montar o festival. Hoje já conseguimos mobilizar os integrantes de várias bandas e também artistas que não tem espaço para expor seu trabalho.
O processo de integração ao Assédio é simples, basta o interessado começar a frequentar nossas reuniões e vai se integrando ao movimento. É importante ressaltar que não somos uma produtora. Produzimos eventos para que os grupos artísticos que integram o coletivo existam e alcancem uma formação de público e uma profissionalização adequada, mas nosso objetivo é muito maior do que apenas produzir eventos. É fazer a população perceber que a produção capixaba existe, e é de qualidade. Que a nossa cultura está sem espaço no lugar onde vivemos e se não fizermos nada, ninguém fará por nós. Por isso incentivamos as nossas próprias produções, de forma completamente independente, cada um corre atrás para ajudar o grupo, e não a si mesmo. Temos consciência de que juntos formamos um movimento muito maior.

3.  A expressão artística com a qual o Assédio atua é apenas musical? Existe a pretensão de integrar outras formas de arte?
Inicialmente começamos com a música porque era o ramo das pessoas que integravam o Assédio, além de saber que a música poderia ser o objeto propulsor do nosso movimento. Hoje nós já estamos dialogando com artistas plásticos e visuais, fotógrafos, artesãos e qualquer artista que sejam interessado em expor o seu trabalho. Há muitas produções de qualidade ainda escondidas pois os artistas não tem onde expor. Resolvemos isso com as exposições durante o Festival Tarde no Bairro, que aos poucos está se tornando um festival de artes integradas. Não há restrição para gêneros artísticos, há espaço para todos, é só conversarmos para sabermos a melhor forma de expôr os trabalhos de cada um.

5.  Fale um pouco sobre o Festival Tarde no Bairro. 
Identidade visual: JUUZ Design
O FTNB é uma iniciativa para que possamos lutar contra esses gargalos que eu citei. É um espaço de circulação cultural, no qual você reúne seus amigos e sua família. A opção de escolher o horário da tarde para sua realização é para facilitar a circulação e integração de pessoas de todas as idades, além de aproveitarmos um horário em qua nada mais acontece, por enquanto, na cidade e evitarmos transtornos de horário com o transporte público, o evento acaba entre 20h e 21h. Ainda dá para curtir a noite em outro local. Além disso, existem pais que gostariam de ir a lugares como esse para aproveitar um evento cultural com os filhos, e um evento a tarde é a melhor opção, tem espaço para as crianças andarem de bicicleta, skate e jogarem bola. Estamos construindo um local de interação, deixamos sempre um local reservado para a expressão artística dos participantes - folhas em branco e lápis de cor, assim os pais podem aproveitar para fazer atividades criativas com seus filhos, e de quebra ouvem uma boa música.

O Festival é produzido pelas bandas e artistas que integram o coletivo. A ideia é que le parta para outros bairros. Hoje ele acontece mensalmente em Bairro República, mas já conseguimos três datas em Araçás, Vila Velha. Queremos que o festival migre sim para outros bairros, através das bandas e dos artistas espalhados pela cidade. Já temos um modelo, mas cada um deve aplicá-lo de acordo com a necessidade do seu bairro. Queremos que outros municípios tomem conhecimento do festival e da forma coletiva de trabalho. Cariacica, Cachoeiro do Itapemirim, Guarapari e Santa Teresa, são municípios em que bandas e artistas já demonstraram interesse em participar e conhecer a iniciativa. Sabemos que cada bairro, município e região tem seus artistas e músicos e é dessa forma que queremos trabalhas, com os talentos locais de cada região. No mais, mesmo que a pessoa ainda não seja músico ou artista, estar dentro do coletivo possibilita que ela aprenda algum tipo de atividade, faça parte da produção do festival e conheça essa produção de cultural local.

6.  Como o coletivo se sustenta?
Buscamos patrocínios com empresas e nos escrevemos em editais públicos. Escrevemos um projeto base, o qual adaptamos para cada parceiro que queremos ter ao nosso lado e a cada edital. Além disso contamos com a pequena renda do bar do festival e da venda de rifas durante o festival, sorteamos brindes de produtos conseguidos juntos aos parceiros.

7. Como foi prospectar parceiros para o Festival Tarde no Bairro? Conte um pouco sobre os parceiros e a forma como colaboraram com o Coletivo.
A captação sempre é a parte mais difícil, falta um entendimento por parte das empresas do que é esse investimento em cultura e por parte dos artistas em valorizar o próprio trabalho. Chegamos sempre oferecendo algo em troca da ajuda do parceiro, seja espaço em nossas mídias ou o catálogo de contatos que temos. Fazemos trocas dentro das nossas possibilidades. Com isso estamos conseguindo um catálogo de serviços com desconto, que ficam disponíveis para os integrantes do coletivo, conseguimos materiais gráficos e design, programas de rádio parceiros, enfim, várias coisas. As pessoas estão começando a entender que essa criação de espaço para apresentações e valorização da nossa cultura é benéfico para todos os envolvidos.

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