sexta-feira, 27 de abril de 2012

Entrevista sobre o Coletivo Expurgação

Foto: Tiago Rossman
Entrevista com Raphael Gaspar e Lorena Louzada, integrantes do Expurgação, coletivo de artistas fundado em 2007 que propõe a expansão da consciência cultural, através do site http://expurgacao.art.br/ e de ações que beneficiam a experiência idealista. (retirado do site)





                         



1. O Coletivo Expurgação começou no campus universitário através da união de amigos, mas como surgiu a ideia de se constituir um coletivo artístico? Conte-nos um pouco sobre o processo pelo qual passaram para estruturar o Expurgação.
Ao contrário da origem ideológica criativa, o Coletivo surgiu através de ações concretas como sessões musicais, pesquisa coletiva e algumas reuniões despretensiosas. Portanto, uma antiga república, a UFES e o Sítio Javali foram os lugares que permitiram nossa convivencia e, por conseguinte, nossa percepção de grupo. Isso aconteceu de 2003 até 2007, quando finalmente decidimos investir na criação de um coletivo.

2. Hoje vocês contam com quantos integrantes? Como foi/ é o processo de inserção de pessoas ao Expurgação? A equipe atual é a mesma desde o início?
Hoje contamos com 15 integrantes. Esse processo se iniciou por meio de substantivos intangíveis: afinidade, simpatia e amor, mas depois se consolidou através do interesse profissional de trabalho em equipe, uma vez que nos graduamos em áreas que se interceptam. Nossa equipe começou com 18 integrantes, mas com o tempo percebemos quem queria apenas uma zona de convivência livre e quem realmente queria arriscar um empreendimento. Colocamos as cartas na mesa e chegamos a conclusão de que o Coletivo Expurgação é nossa formação imaterial relacionada com experimentação, pesquisa e cultura. Sendo assim, criamos a Kalakuta, que é a parte material (o empreendimento e a nova sede) que dá sustentação as ações da Expurgação.


Foto: Francisco Neto
3. Vocês contam com profissionais de diversas áreas, designers, artistas plásticos, entre outros, como se dá o processo de criação com tantas linguagens artísticas envolvidas? A equipe toda participa de todos os projetos ou esses são delegados a pequenos grupos, conforme sua linguagem de atuação?
Sempre coletivamente, de acordo com o princípio de divisão de tarefas. Não temos hierarquia dentro do Coletivo, porém, atribuímos funções e tarefas para a equipe em cada projeto ou para as necessidades administrativas da Kalakuta - essas tarefas são cobradas por todos os envolvidos. Dentro do Coletivo sabemos quais são as técnicas dominadas por cada integrante, de modo que para a elaboração do processo criativo contamos com o suporte de cada especialista, ou de parceiros fora da Expurgação. Por fim, trabalhamos interdisciplinarmente visando a experimentação, o aprendizado e a capacitação consciente.


4. Como o coletivo se sustenta? 
Através de trabalhos culturais (Editais, leis de incentivo, licitações) e particulares da iniciativa privada. Uma porcentagem desses trabalhos vai para a Kalakuta, além disso, seus integrantes pagam uma mensalidade que varia de valor conforme o fluxo de trabalho do período.


5. Hoje vocês prestam serviço ao mercado, que tipo de serviço é esse? Qual público vocês atendem?
O coletivo se apresenta para o mercado através da produtora Kalakuta oferecendo serviços de vídeo (roteiro, storyboard, produção audiovisual e séries para cinema, TV e internet, iluminação, captação e edição de imagem em Full HD, efeitos, animação / motiong graphics), áudio (composição de trilha sonora para filmes e comerciais, produção musical, gravação em estúdio ou externa / som direto e pós produção), design (criação de identidade visual, editoração de livros, ilustração), fotografia (Publicitaria, Moda, Institucional, Arquitetura, Editorial).

Esses trabalhos, mesmo com caracter comerciais, são desenvolvidos pelos membros do coletivo expurgação, que também conta com outros projetos que podem ser apresentados, exibidos e comercializados, como as bandas Fepaschoal, Santiago Emanuel, Expurgação, a exposição de artes visuais Expo Javala, a mostra audivisual Cine Expurga e os livros e documentários dos Últimos Refúgios.

Com isso, atendemos agências de publicidade, produtoras, produtores independentes, músicos e orgãos e instituições públicos e privados com algum tipo de interesse na produção de material artístico e cultural.


6. O Expurgação colabora de algum modo com outros coletivos e artistas independentes? Se sim, como se dá essa parceria?
Sim. A parceria só depende de uma oportunidade, seja ela na música, nas artes ou no design. Aparecendo um projeto que necessita de colaboração, entramos em contato com nossa rede, que sempre responde de forma positiva, equilibrando cada parceria com a demanda do momento. Também existem projetos externos, e assim é feita a parceria ou colaboração, pela aproximação das fontes criativas.


Foto: Francisco Neto
7. O álbum Noaretério, lançado virtualmente e disponível para download livre, no último ano foi lançado também fisicamente, durante o Grito Rock. Porque optaram por lançar a versão física do álbum? O mercado fonográfico ainda percebe a internet e o download como obstáculos ao desenvolvimento, mas vocês, aparentemente, utilizam, a internet a favor do trabalho que desenvolvem, como ocorre isso? 
As pessoas sentem necessidade de possuir objetos. O sistema dos objetos (Baudrillard, 2000) permite a re-significação de objetos e signos culturais, por exemplo, a embalagem desse álbum foi feita com restos de papelão e aplicações serigráficas, fato que o diferencia dos tradicionais modelos de embalagem de cd's. A internet é um território cheio de entrelinhas. Se por um lado ela pode oferecer risco ao conteúdo protegido por lei, por outro lado permite a ampla divulgação de trabalhos ainda desconhecidos e renova o processo de interação entre artista e público.


8. Qual a visão do Expurgação a respeito do mercado fonográfico x distribuição livre?
O mercado fonográfico foi pego de surpresa pelas mudanças provocadas pela internet - já o mercado cinematográfico trava uma batalha contra a distribuição livre. Sendo assim, consideramos que a distribuição é uma questão de estratégia do artista independente ou da gravadora. Para as gravadoras a liberdade é sempre um mau negócio, quanto maior o controle maior poderá ser o lucro. Mas para o mercado independente a liberdade é uma característica intrínseca que não pode ser ignorada.

Atualmente o coletivo desenvolve o site expurgacao.art.br com apoio da Secult/ES alimentado por conteúdos sobre assuntos gerais, divulgação e registro das ações as quais o coletivo estiver envolvido.

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