sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Para os homens, pelas mulheres


Ficha técnica
Título: Irina Palm
Gênero: drama
Duração: 103 min
Ano de lançamento: 2007
Direção de cena: Sam Garbarski
Roteiro: Sam Garbarski, Martin Herron e 
Philippe Blasband
Produção: Sébastien Delloye, Diana Elbaum e Georges van Brueghel
Música: Ghinzu
Fotografia: Christophe Beaucarne
Direção de arte: Regine Constant, Véronique Sacrez e Karen Wakefield
Figurino: Anushia Nieradzik
Edição: Ludo Troch


Maggie, Marianne Faithfull (compositora, cantora, atriz e ex caso do Mick Jagger), é uma viúva que vive em um subúrbio londrino e que divide seu tempo entre jogar baralho com as amigas, lavar as roupas do seu único filho e, a contragosto da nora, visitar seu neto, Ollie, Corey Burke, no hospital. O menino sofre de uma grave doença e piora a cada instante, seu tratamento já custou todo o dinheiro e os poucos bens da família, sem que tenha conseguido resultado. A única esperança de cura está em um tratamento que existe apenas na Austrália, no entanto, a família não possui mais dinheiro para custeá-lo e Ollie tem pouco tempo de vida. Em meio ao desespero, Maggie vagueia pelas ruas de Londres à procura de trabalho, mas não há vagas para uma pessoa considerada idosa, sem experiência e formação profissional, de empresa em empresa ela só ouve recusas, então vai ao banco, pedi um empréstimo, mas até a casa onde mora está penhorada, mais uma negativa. 

Não! Este não é um dramazinho para mulher! Vai vendo...

Em seu caminho ela encontra uma placa: “Precisa-se de recepcionista”, mero eufemismo, ao descer as escadas ela se vê em um clube noturno (vulgo puteiro) e o dono do estabelecimento (entenda-se cafetão), Mikky, Miki Manojlovic, analisa as mãos de Maggie e lhe diz que se souber usá-las ganhará muito dinheiro. Depois de uma noite insone, pesada pela dúvida entre a vida do neto e algo considerado errado e repugnante, Maggie aceita o emprego, que consiste em masturbar homens por um buraco na parede (leia-se punheteira).

Para os habituados com a velocidade dos frames holywodianos o filme pode parecer insosso, porém, em dado momento o espectador se percebe dentro da estória do filme, uma personagem que já não está convicta sobre o que é certo e o que é errado.  O observador é posto ora no papel da amiga que acusa Maggie de imoral - mas que depois se constata que o teto dela é de vidro - ora, na protagonista, vítima da revolta e do desprezo de seu filho único ao descobrir a origem do dinheiro que pode salvar a vida de Ollie.

Apesar de abordar tabus sexuais o roteiro e a direção de Sam Garbarski não constituem um filme pornô disfarçado, como os filmes “globais” de comédia brasileiros, nem é um melodrama estadunidense no qual você se emociona, mas depois esquece o nome do filme. Esse longa metragem não faz uso de chavões cinematográficos para aumentar a bilheteria, ao contrário, ele é permeado por debates relevantes e coloca em cheque as representações sociais sobre  ética, moral e mulheres. O expectador de Irina Palm é obrigado a se posicionar, ele tem que refletir se a decisão dela configura uma atitude errada. Para isso é preciso cogitar a possibilidade de que muitos dos conceitos aprendidos e creditados até esse momento, talvez não sejam tão bons e exatos quanto se imaginava. 

Não percebeu quais os atributos das mulheres Irina Palm incorpora? Eu lhe digo: a força, o histórico de luta contra conceitos (discriminação mesmo) que oprimem as mulheres, que as delegam ao encargo de cuidadora do lar (leia-se do homem), de zeladora da honra, da moral e dos bons costumes, porque a elas são proibidos diversos pensamentos e ações que aos homens é dado como normal, o machismo está entranhando na sociedade de tal modo que até as mulheres o perpetua, muitas vezes, sem se darem conta disso.

Esse é um drama para os homens, mas que toda mulher deveria assistir.

Trailer e crítica do filme:











*Publicado no Portal Iuuk na coluna Múltiplas Manifestações no dia 09/03/2012

2 comentários:

  1. Acho que nem antiético nem imoral, tá mais pra algo real, pois milhares de pessoas hoje em dia, se submetem a todo tipo de coisa para conquistar o que querem, e precisam para sobreviver,e Maggie é só mais uma nesse contexto.

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  2. Ética e moral só podem ser discutidas com referência na realidade.

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